Monday, June 17, 2013

vai, são paulo!!!!

enviado por minha mãe hoje de manhã.

 O POVO AO PODER - Castro Alves - Recife, 1864

 Quando nas praças s'eleva
 Do Povo a sublime voz...
 Um raio ilumina a treva
 O Cristo assombra o algoz...

 Que o gigante da calçada
 De pé sobre a barrica
 Desgrenhado, enorme, nu
 Em Roma é catão ou Mário,

 É Jesus sobre o Cálvario,
 É Garibaldi ou Kosshut.

 A praça! A praça é do povo
 Como o céu é do condor
 É o antro onde a liberdade
 Cria águias em seu calor!

 Senhor!... pois quereis a praça?
 Desgraçada a populaça
 Só tem a rua seu...
 Ninguém vos rouba os castelos

 Tendes palácios tão belos...
 Deixai a terra ao Anteu.

 Na tortura, na fogueira...
 Nas tocas da inquisição
 Chiava o ferro na carne
 Porém gritava a aflição.
 Pois bem...nest'hora poluta

 Nós bebemos a cicuta
 Sufocados no estertor;
 Deixai-nos soltar um grito
 Que topando no infinito

 Talvez desperte o Senhor.

 A palavra! Vós roubais-la
 Aos lábios da multidão
 Dizeis, senhores, à lava
 Que não rompa do vulcão.
 Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
 Ai cidade de Vendoma,
 Ai mundos de cem heróis,
 Dizei, cidades de pedra,
 Onde a liberdade medra
 Do porvir aos arrebóis.

 Dizei, quando a voz dos Gracos
 Tapou a destra da lei?
 Onde a toga tribunícia
 Foi calcada aos pés do rei?
 Fala, soberba Inglaterra,
 Do sul ao teu pobre irmão;
 Dos teus tribunos que é feito?
 Tu guarda-os no largo peito
 Não no lodo da prisão.
 No entanto em sombras tremendas
 Descansa extinta a nação
 Fria e treda como o morto.
 E vós, que sentis-lhes os pulso
 Apenas tremer convulso
 Nas extremas contorções...
 Não deixais que o filho louco
 Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
 Sobre os nossos corações".

 Mas embalde... Que o direito
 Não é pasto de punhal.
 Nem a patas de cavalos
 Se faz um crime legal...
 Ah! Não há muitos setembros,
 Da plebe doem os membros
 No chicote do poder,
 E o momento é malfadado
 Quando o povo ensangüentado
 Diz: já não posso sofrer.

 Pois bem! Nós que caminhamos
 Do futuro para a luz,
 Nós que o Calvário escalamos
 Levando nos ombros a cruz,
 Que do presente no escuro
 Só temos fé no futuro,
 Como alvorada do bem,
 Como Laocoonte esmagado
 Morreremos coroado
 Erguendo os olhos além.

 Irmão da terra da América,
 Filhos do solo da cruz,
 Erguei as frontes altivas,
 Bebei torrentes de luz...
 Ai! Soberba populaça,
 Dos nossos velhos Catões,
 Lançai um protesto, ó povo,
 Protesto que o mundo novo
 Manda aos tronos e às nações.

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