Friday, January 02, 2015

o elefante

quando antonia morreu tinha um ano
e oito meses foi encontrada na piscina
apertava um elefante na mão que sua mãe
até hoje aperta muito embora o alzheimer
lhe impeça de lembrar por que ela a mãe
pulou na piscina ao ver antonia
à deriva no ventinho da renânia do norte
boiando na piscina que o pai de antonia
esqueceu de cobrir enquanto jogava
tênis com outros amigos talvez tão ou mais
ricos do que eles a mãe de antonia que hoje
já não se lembra de muita coisa como falei
por causa do alzheimer lembrou no entanto
de guardar o elefante mas esqueceu
de tirar o vestido molhado dizem que passou
dias com ele e quem viu diz também que era
lindo ver aquela mulher com um vestido azul
claro longo molhado e por conseguinte coladinho
"parecia uma estátua grega" disse-me quem a viu
mas ninguém viu que apertava também o elefantinho
foi em 1958 quando ivi morreu 50 anos depois
tinha vinte e cinco e seis meses apertava o primeiro
verso de um poema de sylvia plath e resistia bravamente
de olhos cerrados enquanto caia morto o mundo
embora soubesse que o resto do poema é uma
declaração de amor completamente estúpida
como são todas as declarações de amor
heterossexual e como todas as coisas que plath
escrevia, me perdoe plath me perdoe campilho
o mundo é um horror, o elefante é de pelúcia
e ossinhos não são de mel, são apenas cálcio
nada mais.



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