Friday, June 12, 2015

filomela em ts eliot

alusão ao estupro de filomela por tereu na parte dois de "a terra arruinada". tradução de júlia rodrigues.


II. Uma Partida de Xadrez

O assento em que ela se sentou, como um trono reluzente,
Brilhava sobre o mármore, onde o espelho,
Sustentado em estandartes cobertos por parreiras
De onde um Cupido dourado espiava
(Um outro ocultou seus olhos atrás das asas)
Fazia dobrar as chamas do candelabro de sete braços,
Refletindo a luz sobre a mesa enquanto
As joias dela brilhavam ao encontro da luz,
Surgindo de cofres aveludados, elevavam-se em rica profusão.
Frascos de marfim e vidros coloridos
Destampados, dispersavam os perfumes sintéticos dela,
Unguentos em pó ou líquidos – confundiam
E afogavam os sentidos em aromas; espalhados pelo ar
Refrescante da janela, que ascendiam,
Que avolumam as chamas alongadas,
Atiram sua fumaça em laquearia,
Agitando a estampa do teto decorado.
Imensas madeiras-do-mar cobertas de cobre,
Queimadas de verde e laranja, adornadas pela pedra colorida,
Em cuja luz melancólica nadava um golfinho esculpido.
Sobre a antiga lareira se encenava,
Como uma janela que permite ver a paisagem silvestre,
A metamorfose de Filomela pelo bárbaro rei
Tão rudemente violada; ainda o rouxinol cobre
Todo o deserto com sua voz inviolável,
E ainda ela pranteia, e ainda corre o mundo,
‘Jug Jug’  para ouvidos imundos.
E outros tocos mutilados do tempo,
Foram cantados além dos muros; observando formas para fora
Lançadas, lançando, cobrindo de silêncio a sala trancada.
Passos lentos ressoavam na escada.
Sob a luz do fogo, sob um pente, os cabelos dela
Espalhavam-se em pontos rubros
Brilhavam em palavras, selvagemente silenciadas.

            ‘Estou mal dos nervos essa noite. Sim, mal. Fica comigo.
Fala comigo. Por que você nunca fala. Fala.
O que você está pensando? Que pensando? Que?
Eu nunca sei o que você está pensando. Pensa.’

            Acho que estamos na toca dos ratos
Onde os mortos perderam os ossos.

            ‘Que barulho é esse?’
                                       O vento debaixo da porta.
‘E agora? Que barulho é esse? O que o vento está fazendo?’
                                        Nada mais uma vez nada.
                                                                        ‘Você
Sabe de alguma coisa? Vê alguma coisa? Se lembra de

Alguma coisa?


                        Eu lembro
Das pérolas que foram os seus olhos.
‘Você está vivo ou não?  Você não tem nada na cabeça?’

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