Tuesday, June 09, 2015

medusa, de sylvia plath

(tradução é de rodrigo garcía lopes)

Longe dessa península de bocais pétreos,
Olhos revirados por varetas brancas,
Orelhas absorvendo as incoerências marinhas,
Você abriga sua cabeça débil — globo de Deus,
Lente de piedades,

Seus parasitas
Oferecem suas células selvagens à sombra de minha quilha,
Empurrando como corações,
Estigmas vermelhos bem no centro,
Cavalgando a contracorrente até o ponto de partida mais próximo.

Arrastando seus cabelos de Jesus.
Escapei, me pergunto?
Minha mente sopra até você
Umbigo de velhos mariscos, cabo Atlântico,
Se mantendo, parece, em estado de milagrosa conservação.

Em todo caso, você está sempre ali,
Respiração trêmula no fim da minha linha,
Curva d’água pulando
Em meu caniço, ofuscante e agradecida,
Tocando e sugando.

Não chamei você.
Não chamei você mesmo.
No entanto, no entanto
Você veio a vapor em minha direção,
Obesa e vermelha, uma placenta

Paralisando amantes impetuososos.
Luz de naja
Espremendo o hálito das rubras campânulas
Da fúcsia. Sem poder respirar,
Morta e sem dinheiro,

Superexposta, como num raio-x.
Quem você pensa que é?
Hóstia de comunhão? Maria Carpideira?
Não vou tirar nenhum pedaço desse seu corpo,
Garrafa aonde vivo,

Vaticano espectral.
O sal quente me mata de enjôo.
Imaturos como eunucos, seus desejos
Sibilam para meus pecados.
Fora, fora, coleante tentáculo!

Não há mais nada entre nós.

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