Sunday, November 13, 2016

uma tradução de white nights, de paul auster, sábado à noite em são paulo, na rede de gutierrez morrendo de dor nas ancas com chinkungunya, as pessoas devem estar na esbórnia e eu queria estar com elas me esfregando no mundo me pendurando nas barra do metrô e no entanto estou apenas traduzindo e com inveja




Noites brancas

Ninguém aqui,
e o corpo
diz: qualquer coisa dita
não é pra ser. Mas ninguém
é também um corpo,
e o que o corpo diz
ninguém ouve
exceto você.

Neve
e noite. A repetição
de um assassinato
entre as árvores. A caneta
se move
pela terra: ela não sabe mais
o que vai acontecer, e a mão que
a segura
sumiu.

Ainda assim, ela escreve.
Escreve:
no começo,
entre as árvores, um corpo veio andando
vindo da noite. Ela
escreve:
a brancura do corpo
tem a cor da terra. É a terra,
e a terra escreve: tudo
tem a cor do silêncio.

Eu não estou
mais aqui. Eu nunca disse
o que você disse
que eu disse. E ainda assim, o corpo
é um lugar
onde nada morre. E toda noite,
vinda do silêncio das
árvores, você sabe
que minha voz
vai andando até você.

(de paul auster em "wall writing", 1976)



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